A Arca de Noah Loren

Escrevo sem pretenção nenhuma de que daqui saía algo que preste.

Assunto: vou falar um monte de besteiras, criticar um monte de gente e você vai sair daqui com uma péssima opinião sobre mim.

Sabe, existem pessoas de direita que seja por empatia ou apatia são receptivas a algumas pautas reivindicadas hoje pela esquerda. Como por exemplo legalização da maconha, aborto etc. Dito isso o que realmente define para você a esquerda? Para mim sempre foi e sempre será a classe social. E qualquer resposta diferente disso é parte da tentativa desse sistema individualista de nos fragmentar cada vez mais porque desunidos, numa massa desorganizada, nós somos mais fracos e vulneráveis.

Eu sou uma pessoa designada mulher ao nascer. E me identifico como não-binário. Mas sinceramente, eu sou muito mais oprimido por ser pobre do que por qualquer outra coisa.

As pessoas ao meu redor são de todas as cores, são em sua maioria homens e mulheres cisgênero, de todas as idades, muitas crianças principalmente e são todos pobres.

Eu moro no Ceará. Um dos estados mais ricos do Brasil e mesmo assim minha cidade é muito pouco desenvolvida, a saúde (pública!) é ruim, a educação (pública!) é ruim e a segurança (pública!) é ruim.

Meu avô era analfabeto. Minha mãe engravidou na adolescência. Minha irmã precisou trabalhar ainda menor de idade em confecção de costura para ajudar em casa. Mas apesar de todas as dificuldades eu recebi cuidados e proteção dessas pessoas, uma coisa que outras pessoas criadas no mesmo bairro que eu não podem dizer de suas próprias famílias.

Na minha realidade existem negros, mulheres, pessoas LGBTQIAPN+, deficientes. Mas os desafios enfrentados por essas pessoas são diferentes dos que eu vejo preocupando uma parcela da esquerda. As pessoas negras que eu conheço não sabem o que é Black Lives Matters. As mulheres são mais afetadas pela falta de creches decentes e empregabilidade do que pela opinião de homens da classe trabalhadora que não possuem tanto poder assim de oprimi-las. Nunca conheci uma pessoa NHINCQ+ que usasse pronome neutro. Os deficientes sofrem mais com a dificuldade de terem acesso a assistência do que se suas mães utilizam a linguagem não-capacitista e correta ao se referi a eles.

Aonde eu estou querendo chegar com isso? Não muito longe.

Estou querendo dizer que essas pautas levantadas por parte da esquerda não são relevantes? Não. Mas estou questionando para quem elas são relevantes? Para a classe trabalhadora como um todo ou apenas para a classe média?

Não culpo o “identitárismo” dos “novos” movimentos sociais pela fraqueza do movimento dos trabalhadores. Porque ele a meu ver não é forte o bastante para ter tanta influência, a luta deles não chega até nós. Esse tipo de coisa me parece mais uma tentativa de achar um bode expiatório para certos fracassos. Eu crítico o “identitárismo” mas ainda não acho ele o problema. Enxergo problemas no acadêmicismo mas pra mim é mais uma consequência de uma sociedade em que a educação é muito elitizada do que uma causa. A maioria das mulheres nem sabe o que é e o que diz o feminismo, e algumas ditas feministas também então não julgo que seja culpa dele.

Mas quem sou eu para falar essas coisas? Sou uma pessoa de vinte e poucos anos, branca. Se alguém quiser tentar me convencer do contrário sinta-se a vontade.

Assunto: as porcarias que eu ando lendo, textos antipornografia.

Não sou antipornografia, por vários fatores. Mas apesar disso eu tenho lido alguns textos com essa temática. Eles não mudaram a minha opinião mas me fizeram pensar em algumas coisas.

Como por exemplo a liberdade artística que existe na pornografia? Ela deveria ser aplicada a todos os setores da arte? Sim, estou pensando em pornografia como arte, isso está certo? Ela é apenas um segmento da indústria do sexo que inclui bens e serviços. Mas é um segmento que trabalha com áudio-visual e se as porcarias que a indústria do entretenimento produz são consideradas artes porque não a pornografia? Pelo mesmo motivo que não chamamos de arte um brinquedo de plástico do McDonalds? Talvez eu seja um idiota hipócrita por defender a liberdade das pessoas de consumirem a pornografia que elas quiserem (dês de que feita de modo ético sem explorar crianças ou animais) mas não defender a liberdade de um comediante fazer piadas racistas e capacitistas? Se o sexo é livre de toda a censura o humor também deveria ser?

Outra coisa que eu passei a refletir por causa dessas merdas que li é: faz sentido uma pessoa anti-capitalista defender a prostituição como um trabalho utilizando os mesmos argumentos dos liberais?

E também, consentimento é uma porcaria muito mais complicada do que as pessoas fazem parecer, todas as pessoas são capazes de consentir para as mesmas situações?

Por último eu fiquei com um questionamento – vivemos numa sociedade reprimida sexualmente ou hiperssexualizada?

Assunto: não vamos nos aposentar nem ter casa própria! O mundo está sendo destruído, povos estão sendo exterminados e se sua vida está boa cale a boca! Só abra quando tiver uma fofoca boa para contar.

O título dessa postagem é um grande bait. Eu não vou dizer uma palavra sobre a crise no capitalismo pela qual estamos passando. Talvez apenas faça um vlog indignado e lance minha candidatura na política ou em algum reality show em cima disso, não nessa ordem.

Também não vou praticar “ecoterrorismo” – embora pense que já passou da hora dos ativistas ambientais tentarem tomar medidas realmente radicais como explodir uma bomba vegana na cúpula da ONU (ironia!) – não falarei sobre a metade do ambiente que ainda não destruímos.

E Deus me livre de agir igual a um extremista politico e acusar alguém de limpeza étnica.

Assunto: ataque gratuito a linguagem inclusiva.

Eu sou adepto da linguagem inclusiva e favorável a representatividade. Mas tenho uma série de críticas a militância de certos grupos, embora os apoie.

Primeiramente discordo da ideia de que modificar o modo como falamos ou escrevemos, criar pronomes alternativos ou substituir termos – falsamente ou não – polêmicos irá impactar na opressão de raça, gênero, orientação sexual e classe. Não sou contra, mas não acredito que isso trará mudança positiva ou negativa em especial para as pessoas de minorias sexuais e de gênero da classe mais baixa.

Sim, a linguagem é um reflexo da realidade. Basta olhar para o significado e o gênero das palavras governante e governanta. Ou então perceber o uso do masculino como coletivo de dois gêneros na língua portuguesa.

Mas apagar esse reflexo difiçilmente vai mudar a realidade. Na minha opinião é claro.

Embora possa minimizar alguns constrangimentos para uma pessoa trans no seu dia a dia. Por conta desse último aspecto sou a favor a linguagem inclusiva. Aqui me refiro especificamente por exemplo a linguagem médica – pessoas com útero, pessoas com próstata etc.

Minha segunda crítica, ou melhor, meu ataque gratuito e covarde é sobre a luta prática e os obstáculos que ela enfrenta.

Vivemos num país em que ocorreu uma ascensão da extrema-direita nos últimos anos, que se mostra muito contrária as pautas das minorias sexuais e de gênero. Já existem projetos de lei para coibir o uso da linguagem inclusiva, mesmo seu uso não sendo comum nem impositivo.

Não estou dizendo que se deveria abandonar a pauta por conta disso. Mas penso que não se pode separar ela do combate ao reacionárismo das instituições.

Por último gostaria de dizer que discordo da prática de rotular todas as pessoas que por diversos motivos não aderem a linguagem inclusiva com uma série de adjetivos que terminam em “ismo”.

Não que as vezes está nomenclatura não seja condizente com a realidade. Mas acho que isso é colocar no mesmo nível a pessoa que não utiliza a linguagem politicamente incorreta por desconhecimento ou incapacidade com a que o faz de propósito com a intenção de ofender alguém.

Concluindo gostaria de destacar que devemos todes trabalhar por um futuro em que a desigualdade social e econômica seja combatida. Num país elitizado como o Brasil a educação mesmo nos graus mais básicos é restrita o que priva até mesmo as principais pessoas contempladas por esse debate de participarem dele. E apenas modificando essa realidade podemos esperar mudanças significativas e positivas na realidade.

Claro, essa é apenas minha opinião. Ê leitore é livre para discordar de mim.

Resenha: Um Domingo Maravilhoso (filme)

Estou sempre procurando filmes acessíveis e bons para assistir. Foi assim que me aventurei pelos canais de YouTube que disponibilizam películas completas. Entre eles meu predileto tem sido o Cine Antiqua.

Entre seu extenso catálogo existem algumas pérolas do cinema nipônico.

Uma delas, Um Domingo Maravilhoso, dirigido por Kenji Mizoguchi.

No longa metragem acompanhamos o encontro de um casal de namorados, Yazu, um ex-soldado, e Masako, uma jovem sonhadora e alegre. Os dois juntos possuem apenas 35 ienes para se divertirem. O contexto é o pós-guerra do qual o Japão saiu devastado.

Apesar de ser principalmente um drama com romance existem momentos bem humorados durante a obra inteira.

Um filme que os românticos vão adorar!

Introdução

Sejam bem vindes a minha “arca”. Onde eu compartilho todas as coisas que eu não quero que se percam nas águas do tempo.

Por favor, sente-se onde quiser, coma e beba alguma coisa. As vezes sou um pouco prolixo então essa pode ser uma longa, longa viagem minha.