“de repente”, como se fosse possível. nada entre eles poderia ser repentino nessa relação, as circunstâncias impediram. mas, como uma gota inaugura o derrame, algum poema, alguma música, alguma atitude carinhosa inaugurou o desejo rebelde de gozar, não só o corpo, mas a presença, a amizade, o carinho. e como ele permite, ela decide que seus encontros seriam quotidianos. a paixão que cresceu exigiu a satisfação dos desejos: sexo, amizade, carinho. como resistir? a carência dela era impossível conter. tratada com descaso por homem egóico que contradiz desde seu caráter gentil e generoso, à sua fé, tão importante à sua vida. ele, também carente, mas por outra forma: autoestima debilitada pela falta de sensação de potência, de força, em meio a recuperação de um estado de depressão, que sabemos, deve-se manter, há vezes, pelo resto da vida. sua capacidade produtiva operando muito abaixo de sua capacidade, dependente de seus ascendentes familiares, vendo-se incapaz de exercer sua completa autonomia. mas poeta, que é, ao vê-la tão bela físicamente, ao intuir sua personalidade acolhedora, investiu. durante longos meses, mais de dois anos, a observava, analisava, percebia nela algo de atraente, mais do que seu rosto e sorriso lindo, seu corpo imponente, sua postura altiva; havia em sua presença algo de doçura, de carinho ao próximo, de um amor que revelou a ele sua origem enquanto ambos orbitam entorno do interesse mútuo que nutriam. a fé merece este parágrafo. a dela é óbvia, criada no pentencostalismo em igreja séria, doando-se, em tempo e corpo para a função de louvar e pregar, procurando salvar quantas almas puder, uma linda cristã. para ele a fé esgarçada ainda que alvo de interesse e profundo respeito, vinha nele mesmo adormecida, a muito não dedicava tempo ao encontro com a divindade que ele percebia em si próprio, há décadas sem se dedicar a qualquer igreja, aos poucos, paulatinamente, seduzido por aquela mulher que seduz, as vezes sem perceber, foi dando combustível a uma fé que se fortalece, não por ceder a dela, ao contrário, mas por necessidade de se impor na relação. as trocas intensas e potentes entre os embates aproximam cada vez mais a fé de ambos. a fé liga os dois, eles sentem isso, e dedicam-se ao trabalho de exercê-la em quase todo encontro.
Erick Rijo Jr prosa